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Inventário de Ausências: Memória e temporalidades em literaturas contemporâneas das américas

Inventário de Ausências: Memória e temporalidades em literaturas contemporâneas das américas

11/10/2020

Reconhecendo que a literatura e a cultura das Américas vem sendo construída com a

?matéria da ausência?, segundo a expressão de Patrick Chamoiseau, ou seja, sobre camadas de esquecimento e denegação de elementos culturais indígenas e africanos cuja transmissão não foi efetivada porque os herdeiros dessas tradições rejeitaram tal herança, o projeto visa flagrar, nos contextos literários brasileiro, quebequense e do Caribe francófono, obras que evidenciam a recusa desse apagamento. O projeto objetiva: 1) apontar a emergência de tentativas de recolher os restos memoriais e de preencher os vazios e as ausências com a redescoberta de espaços de recordação e de rememoração, buscando reconstruir a memória de negros, indígenas, mulheres e excluídos por múltiplas formas de racismo; 2) flagrar a passagem de uma situação de herdeiros problemáticos, que recusavam a herança, a herdeiros inquietos e ansiosos por reatar com a ancestralidade que foi repudiada; 3) pôr a nu as ?impurezas? fundadoras, desmistificar as mitologias da raiz única e apontar personagens em sua tentativa de reinventar-se no papel de transmissores da herança ancestral; 4) inventariar as ausências e repensar o papel fertilizador dos migrantes na perspectiva inter e transgeracional; 5) inventariar questões de filiação e de afiliação, observando a constituição de comunidades de memória (P. Ouellet, 2012), conceito que leva em conta, para além da memória dos povos fundadores, as culturas dos recém-chegados a um determinado país. O projeto se propõe, portanto, a desvendar obras literárias contemporâneas, no âmbito das três Américas, que passam a reconhecer a herança enigmática de ancestrais, que estiveram na impossibilidade de transmitir seus patrimônios culturais e de desbaratar os emaranhados fios da memória, explorando em profundidade várias dimensões do tempo. Pretende-se observar o abandono, no romance contemporâneo, dos caminhos batidos de Cronos (tempo linear, medido pelo relógio, tempo devorador cruel que nos empurra para a morte), para assumir outras formas de temporalidade como Kairós e Aion, duas divindades ligadas que marcam a relação complexa entre instante e eternidade.